Inclusão Social
“Nunca deixes que o teu passado estrague o teu futuro”
Publicado em 06 de Dezembro de 2022 às 18:52
É uma homenagem que a Fundação Santander Portugal e a Cofina fazem questão de prestar a João Tavares Semedo, mais conhecido por Johnson, que faleceu na quarta-feira, dia 30 de novembro. Este episódio do Transformar Vidas estava planeado e a ser preparado com alguma antecedência para ser publicado no final de dezembro. A entrevista a Elias Gaieta, mais um exemplo de superação, decorreu uma semana antes da morte de Johnson.
Johnson teve um percurso de vida muito duro e adverso, com alguns comportamentos que o levaram a estar detido em diversos estabelecimentos prisionais. Depois de ter mudado a sua vida há mais de dez anos, dedicou-se a aplicar a sua experiência pessoal para prevenir situações de risco para outras crianças e jovens em situações precárias.
Era uma pessoa incrível que mudou o destino de centenas de crianças e jovens, com um lema de vida que repetia sempre na Academia: “És Aquilo que Fazes.” Foi ele que, de um dia para o outro, conseguiu começar a mudar a vida de Elias Gaieta, de 19 anos: “O Johnson passou de mota, eu estava a ir para casa e perguntou-me se não queria ir para a academia. Subi na mota e disse-me ‘agarra-te bem!’. Está comigo desde os 10 anos.”
Gaieta começou há nove anos e hoje é um dos mentores dos mais novos. Ao longo do tempo, conta-nos, aproveitou todas as ferramentas que Johnson lhe deu. A história de Johnson Semedo é de superação e resiliência. Nunca escondeu a sua passagem pela prisão e fez questão de transformar o passado numa lição: “Nunca deixes que o teu passado estrague o teu futuro.”
Nunca deixes que o teu passado estrague o teu futuro
Um espaço seguro
No espaço idealizado pelo fundador, Elias recorda os dias em que se sentia “sem forças para sonhar” e como os problemas que estava a passar em casa se esqueciam quando chegava à academia. É muito direto quando afirma que, num bairro social, as condições são muito difíceis e que “não há apoios suficientes”. Admite que, mesmo que as pessoas não se queiram envolver nos problemas, “não há refúgios” e por isso é preciso fazer escolhas entre “o bom e o mau caminho”. É aí que considera que a academia faz a diferença.
Através de diversas atividades que vão desde o simples apoio ao estudo e até à prática de desporto, música e mesmo sessões de reflexão conjunta sobre temáticas que tocam a todos, a Academia consegue prestar um apoio fundamental a mais de 200 crianças destes bairros periféricos. O acompanhamento próximo faz com que todos os alunos sintam que têm o apoio necessário para se concentrarem nos estudos e no seu desenvolvimento pessoal. Elias lembra os tempos em que, com as notas a descer, Johnson arranjou um tutor para lhe dar explicações. Sem qualquer tipo de cobranças.
O princípio do respeito pelos outros, que o fundador sempre quis perpetuar, é seguido por Elias, que agora quer transmitir o legado às crianças que ajuda: “O Johnson sempre me ensinou a respeitar o próximo e, para ganharmos a confiança das crianças, temos de lhes ensinar o que é o respeito. Nós respeitamo-las, elas respeitam-nos.”
Assume também que “quem vem de um bairro social nem sempre é bem visto” e é por isso que luta para ser um exemplo para todas as crianças: “Elas têm de ver em mim alguém que lhes dá o exemplo para que possam seguir o bem e não o mal.” E recusa-se a aceitar o preconceito como limitação: “O bairro nunca vai definir quem és ou o que podes ser.”
“Vamos continuar o sonho do Johnson”
Inês Oom de Sousa
Presidente da Fundação Santander Portugal
“Tive a sorte de conhecer e trabalhar com o Johnson. Fiquei encantada com a sua história, foi sempre um exemplo único de superação. É impossível ficar indiferente à sua história. Formou a Academia que desenvolve um trabalho fantástico na prevenção da delinquência juvenil, através do apoio a jovens de meios sociais fragilizados, bem como das suas famílias, defendendo sempre valores humanistas. O Jonhson tinha uma forma única de se relacionar com as pessoas. Foram várias as vezes que me ligou para partilhar preocupações concretas e pedir a nossa ajuda. Em conjunto, arranjávamos sempre uma solução. A morte do Johnson representa uma grande perda para todos. Mas, pelo Johnson e pelas crianças, pelos jovens e pelos mais velhos que apoiou e apoia, vamos manter esta Academia viva. Vamos continuar o sonho do Johnson.”
A importância de apostar na equidade social
Johnson tornou o sonho realidade e criou uma Academia onde todas as crianças têm espaço e tempo para sonhar com um futuro onde as desigualdades se podem ultrapassar e é o mérito a prevalecer. A Fundação Santander Portugal é mecenas do projeto e Elias reconhece “o apoio fundamental” de uma fundação que “traz esperança” à Academia.
Elias deixa bem presente a motivação para continuar a obra social: “Não é porque viemos de baixo, que não podemos estar lá em cima.” A profunda admiração por Johnson que demonstrou na entrevista, realizada antes da sua morte, é hoje ainda mais atual: “É um pilar. É um grande homem. E até hoje lhe digo: tu és, e serás sempre, um pai para mim, independentemente de qualquer situação. Porque no bem e no mal, estiveste sempre lá para mim.”
